As fachadas têm desempenhado um papel a mais no quesito de sustentabilidade, seja pela forte relação com o desempenho energético da edificação, seja como plano vegetado, ou como elemento para melhorar a qualidade do ar. Hoje iremos falar de outra tecnologia capaz de filtrar as substâncias tóxicas do ar: o cimento biodinâmico.
O que é o cimento biodinâmico?
Criado pelo químico Luigi Cassar, da empresa italiana Italcementi, o cimento biodinâmico tem propriedades fotocatalíticas. Em outras palavras, seu princípio ativo é acionado com a radiação solar e é capaz de capturar alguns poluentes presentes no ar, convertendo-os em sais inertes que são lavados com as chuvas. Além disso, apresenta tamanha fluidez, que permite a criação de formas complexas, com qualidade de superfície acabada.
Falando em acabamento, por sua argamassa ser feita com 80% de agregados reciclados provenientes das sobras de mármore, o cimento biodinâmico tem uma coloração branca muito mais brilhante do que os concretos brancos convencionais.
Vamos às obras?
Igreja Dio Padre Misericordioso:
Projetada por Richard Meier, a Igreja Dio Padre Misericordioso possui três estruturas que lembram velas para representar a Trindade.
O cimento biodinâmico foi aqui utilizado principalmente porque se mantém branco ao longo do tempo. O ativo de óxido de titânio, ao impulsionar a reação química com os poluentes do ar, mantém intacta a superfície de concreto.
Pavilhão Italiano na Expo 2015 – Alimentando o Planeta, Energia para Vida:
O pavilhão italiano para a Expo 2015 , em Milão foi o ganhador entre outras 67 propostas. Segundo os avaliadores, o projeto de Nemesi Studio foi escolhido pelas suas características sustentáveis, pelo valor arquitetônico e pela sua complexidade escultural.
O design tinha como objetivo integrar diferentes recursos naturais. O arquiteto explica que se inspirou no conceito de floresta urbana. Assim, o envelope da construção remete a galhos, com cheios e vazios/luz e sombra, feitos com cimento biodinâmico. Eram 13 mil m2 de superfície capazes de filtrar poluentes atmosféricos.
Além destas características “purificadoras”, o pavilhão possuía vidros fotovoltaicos e coletores solares, concedendo-o eficiência energética.
Com tudo isso exposto, podemos ver como as fachadas, cada vez mais, deixam de ser apenas envelopes estanques para desempenhar funções dinâmicas. Através destas nanotecnologias, podemos melhorar e muito nossa qualidade de vida. Claro que elas, ainda, representam apenas acupunturas urbanas: são casos isolados, que não influenciam efetivamente uma melhora nos níveis de poluição atmosférica.
Segundo estimativas de Luigi Cassar, se 15% da cidade de Milão utilizasse este tipo de cimento, os poluentes atmosféricos reduziriam em 50%. Isso com apenas um custo adicional de 10% sobre o cimento tradicional. Acho que não resta dúvidas que o bem ambiental supera o financeiro…
Por isso a importância de tecnologias como estas serem disseminadas: elas são apenas eficazes quando alcançam escala urbana. Mas, um passo de cada vez, não é mesmo?
Quer relembrar alguns posts sobre fachadas?
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Fontes:
Arch2O – Italcementi – Isplora – Smart Magazine – Richard Meier