No post passado, explicamos como funciona o Living Building Challenge (LBC) aqui no blog. Durante a semana toda, postamos projetos certificados no Instagram. Agora, que tal uma análise mais aprofundada? Escolhemos o projeto Center for Sustainable Landscapes, em Petersburgo, Pensilvânia, projetado por The Design Alliance Architects.
O Center for Sustainable Landscapes é um dos edifícios do Conservatório e Jardim Botânico Phipps. Desde sua concepção, foram seguidas as premissas do LBC, um dos métodos de certificação mais rigorosos para as construções que buscam a verdadeira sustentabilidade. Tanto é que, além do certificado LBC, a edificação também recebeu LEED Platina e a certificação Sustainable Sites Initiative (SITES).
O Center for Sustainable Landscapes foi projetado para fins educacionais e para aumentar a área administrativa. O programa está disposto nos dois primeiros pavimentos: são salas de aula, escritórios, laboratórios de pesquisa, espaço para exposições e uma biblioteca para o Conservatório. O átrio se estende até o terceiro andar, livre e envolto por vidros, e permite o acesso à cobertura verde.
1. Terreno:
O terreno é um antigo brownsfield, local de armazenamento e pátio de serviço do Departamento de Obras Públicas de Petersburgo. O terreno foi pavimentado várias vezes e sofreu décadas de devastação ambiental. Para a construção ser possível, esta área (uma L3: uso misto de baixa densidade) deveria passar por um processo de recuperação.
Assim, plantas foram introduzidas para restaurar o terreno gradualmente. Depois da reconstrução da fauna e da flora, a edificação do antigo depósito foi revitalizada e sua estrutura foi usada no novo edifício. Os tanques de combustível para os veículos da prefeitura que estavam ali enterrados foram limpos e reutilizados para água cinzas.
Com o objetivo atingido, o lugar agora está transformado. A paisagem está toda restaurada com plantas nativas, cobertura verde com exemplos de permacultura, lagoas, jardins de chuva e wetlands construídas que usam plantas e processos naturais para purificação de água.
De acordo com o Diretor Executivo do Phipps, Richard V. Piacentini, o Center for Sustainable Landscapes mostra como é possível um projeto diminuir a barreira entre a construção e o ambiente natural.
2. Energia:
Para criar um edifício nos parâmetros do LBC, a edificação deve ser net zero em energia. Um grande desafio, uma vez que o espaço para colocação do sistema fotovoltaico no novo edifício era restrito. Assim, foram feitos modelos para prever o desempenho da edificação e criar alternativas adequadas.
A solução encontrada foi combinar energia solar (instalada na cobertura dos edifícios já existentes), geotérmica e eólica, aliadas a iniciativas para baixar o consumo do prédio.
O objetivo foi alcançado com êxito. Tanto que, em 2013, foi gerada mais energia do que consumida. A energia residual é utilizada em outras facilidades do campus do conservatório.
2a. Arquitetura Bioclimática do Center for Sustainable Landscapes:
- A implantação foi orientada para o Sul (face do sol no hemisfério Norte), para minimizar a carga térmica no verão e contribuir para o aquecimento passivo no inverno.
- Incorporação de elementos sombreadores, como beirais e venezianas, que diminuem a incidência dos raios solares.
- Prateleiras de luz e aberturas generosas permitem que 80% da iluminação durante o dia seja natural.
- O envelope estanque e isolamento térmico da cobertura diminuem a perda e ganho de calor, no inverno e verão respectivamente.
- O telhado verde funciona como uma barreira térmica, diminui o efeito de ilhas de calor e de lajes com total escoamento superficial.
- Muitas das janelas são operáveis, para permitir a ventilação natural quando a temperatura exterior permitir. Caso contrário, os vidros duplos, de alta performance, diminuem as trocas térmicas com o exterior.
2b. Sistemas eficientes para economizar energia:
- A ventilação é feita mecanicamente por um sistema de distribuição de ar fresco pelo chão, onde o ar quente é retirado dos ambientes por dutos instalados no teto. Este sistema tem alta eficiência e baixo consumo de energia. Além de garantir um bom conforto térmico, previne a super ventilação, pois a mesma diminui naturalmente quando os espaços não estão ocupados.
- Filtros de ar e compressores de água fria compõe o sistema de ar-condicionado. A água é proveniente do subsolo, pois sua temperatura permanece fresca em todas as estações do ano.
- No átrio, que se estende do primeiro até o terceiro pavimento, o aquecimento é feito com radiação indireta, no inverno. Não há sistemas de refrigeração no local, uma vez que depende 100% na ventilação natural.
- Aquecimento/Refrigeração geotermal representa uma economia de 70% no consumo de energia.
- Sistema de monitoramento fornece feedbacks para manter a eficiência dos sistemas.
3. Equidade:
Para o LBC, é de extrema importância o edifício não criar sombreamento em outra construção, em nenhuma época do ano, nem alterar a qualidade do ar para a vizinhança. Portanto, o Center for Sustainable Landscapes:
- Respeitou estes preceitos e sua implantação foi feita pensando no entorno.
- Não há emissão de gases provenientes de combustão. Todas emissões causadas pela operação do edifício são compatíveis às normas do LBC.
- O edifício não compromete a ventilação natural de nenhum outro das proximidades.
- Incentiva os usuários a conhecerem os sistemas sustentáveis e a explorar a parte externa do edifício, com a fauna e flora local, trilhas, anfiteatro, fontes e vistas panorâmicas para a natureza e para a cidade.
4. Beleza:
A missão do Conservatório e Jardim Botânico Phipps é inspirar e educar através das plantas, evoluir a ideia de sustentabilidade, prover bem-estar para o meio ambiente e para as pessoas e manter pesquisas na área. Todas estas idéias estão explícitas no edifício. A beleza e o espírito do Center for Sustainable Landscapes é mostrar os benefícios de estar em harmonia com a natureza:
- Um antigo terreno poluído, agora é um local produtivo e saudável para a fauna e flora se desenvolverem.
- Tecnologias verdes e estratégias baseadas em processos naturais utilizadas na geração de energia e manejo dos recursos hídricos.
- Informa o público a importância do design restaurador, com espaços saudáveis para serem usados.
- Jardins com plantas nativas e uma trilha permitem que o usuário faça uma caminhada da cobertura até o primeiro pavimento. Nessa trilha, há wetlands, jardins de chuva, jardins de sombra, rampas de madeira, árvores e pomares. São mais de 250 espécies na área, promovendo habitat para a fauna local e servindo de estudo para usar plantas nativas nas áreas residenciais.
- As pesquisas feitas no Phipps têm o intuito de transformar o relacionamento das pessoas com a natureza. Além disso, o Center for Sustainable Landscapes serve de centro educacional sobre o ambiente, aberto para o público.
- As salas de aula externas e internas permitem as crianças se conectarem com a natureza e descobrirem como preservá-la para o futuro.
5. Materiais:
Os materiais utilizados são, na sua maioria, provenientes de locais próximos. Isso demonstra a responsabilidade ambiental e também ajuda no desenvolvimento da economia local. Além disso, toda as cadeias de produção foram analisadas, para verificar se estavam de acordo com o LBC.
A construção também marca um modo sustentável de se pensar, com o reaproveitamento da estrutura metálica reciclada do antigo edifício ali presente e dos tapumes utilizados na obra.
6. Água:
O terreno tem água o suficiente para suprir o consumo da edificação, através de águas pluviais, água subterrânea e reaproveitamento das águas cinzas. Seu tratamento é feito ali mesmo, reduzindo o impacto no sistema municipal de água e despejos urbanos.
6a. Estratégias hídricas utilizadas no Center for Sustainable Landscapes:
- Água da chuva é coletada não apenas no Center for Sustainable Landscapes, mas também em outras edificações do campus.
- Foi feita uma lagoa, que utiliza os mesmos processos naturais de purificação de água e serve de habitat para plantas nativas, peixes e tartarugas.
- As águas cinzas são tratadas de forma análoga a natural, com wetlands, plantas e filtro de areia.
- As águas negras utilizam um tratamento de UV, através de um disco parabólico de captação da luz do sol, que gera calor e energia. Esse sistema consegue purificar águas contaminadas até um padrão de pureza aceitável. Posteriormente, é utilizada na rega do orquidário do Phipps.
- Plantas nativas acompanham as condições climáticas locais, necessitando regas menos constantes.
- Áreas pavimentadas utilizam material semipermeável, para não impedir a alimentação dos aquíferos.
Conclusão:
O Phipps utiliza o Center for Sustainable Landscapes como um meio de reforçar a importância das interações humanas e ambientais, com foco em espaços verdes nas cidades, comidas orgânicas e práticas da construção sustentável.
Esperamos que as pessoas que entram em contato com este tipo de edificação se sintam inspiradas a mudar o mundo que as cerca, replicando estas ideias nas suas casas, negócios ou na comunidade.
Fontes:
AIA Top Ten – Archdaily – Inhabitat – Institute for Living Future – Landscape Voice – Trade Line Inc.