Como a arquitetura vernacular ajuda nas soluções sustentáveis?

Alguma coisa sustentável, seja ela qual for (um projeto de uma empresa, uma postura, uma cidade, enfim…) sempre está apoiada em três pilares: economia, ambiente e sociedade. Ou seja, sustentabilidade é algo socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente correto, como já vimos num post anterior. Agora, quando falamos em arquitetura sustentável, por mais que ela também se apoie nesses 3 pilares, o mais importante é pertencer ao local onde foi implantada. E onde a arquitetura vernacular entra nessa equação?

 

O que significa pertencer?

Vamos começar com um exemplo… Um modelo de casa “importado” lá dos países nórdicos não terá o mesmo desempenho aqui no Brasil, pois os climas são muito diferentes, não é mesmo? Isso se aplica a outros diversos fatores: orientação solar, relevo, clima, índice pluviométrico, umidade do ar, ventos, barreiras (sejam elas construídas ou naturais), vegetação, entorno, etc…

O exemplo mais simples para ilustrar isso é um iglu. Com praticamente o único material disponível em abundância em um clima tão hostil, é possível construir um abrigo capaz de conservar calor no seu interior com eficiência.

 

iglu arquitetura vernacular
Os blocos de gelo são ótimos isolantes, diminuindo as trocas térmicas com o exterior. O acesso ao interior do iglu é protegido e posicionado na face oposta a direção dos ventos.

 

Por que este tipo de construção alcança tamanha eficiência? Porque ela pertence! Ou seja, diante das condições que o local ditou, apareceram soluções para atender às necessidades humanas.

E cada terreno tem uma condição específica que deve ser respeitada. Muito além de respeito, podemos tirar proveito do que a natureza ali nos proporciona, através de diferentes escolhas de projeto, uma vez que decisões corretas de desenho e implantação estão fortemente ligadas ao desempenho da edificação.

 

Arquitetura vernacular e sustentabilidade:

Arquitetura vernacular é aquela que utiliza técnicas construtivas tradicionais e materiais encontrados no próprio local. Geralmente, ditam a tipologia regional e são super adaptadas às condições climáticas. A dificuldade de construção antiga ditava isso, pois haviam poucos meios para executar a edificação. Seguia-se a necessidade e alternativas eram encontradas de acordo com as condições do lugar.

Por isso que a arquitetura vernacular está tão ligada ao pertencer e, consequentemente, à sustentabilidade. E através da sua observação, podemos responder uma série de perguntas.

Por que os telhados são inclinados? Por que as aberturas são pequenas? Por que construíram casas elevadas? Por que a espessura das paredes é assim? Etc…

Precisamos entender como e porque tudo aquilo foi construído. Todos estes elementos têm uma função clara na arquitetura vernacular e o conforto da edificação dependia destes fatores. Vamos para alguns exemplos genéricos:

 

1. Clima Frio:

O principal objetivo nos climas frios é driblar a ação da neve, diminuir as trocas térmicas com o exterior e tirar proveito máximo da radiação solar. Temos como características:

  • Telhados com inclinação média;
  • Utilização de materiais de baixa emissividade térmica;
  • Casas agrupadas e vegetação para se proteger contra a ação dos ventos;
  • Casas elevadas, com chão isolado, para evitar bloqueios com a neve e o frio proveniente do solo;
  • Captação da radiação solar com generosas aberturas para face iluminada;
  • Aberturas pequenas para a face fria e na direção dos ventos;
  • Paredes espessas.

 

Casa típica de climas frios. (Greentopia)
Casa típica de climas frios.

 

2. Clima Quente e Seco:

Caracterizado pela grande amplitude térmica durante o dia e umidade do ar muito baixa. Há necessidade de retardar a transferência de calor tanto de dia quanto de noite. Para tanto, deve-se prever:

  • Paredes grossas e materiais pesados, para evitar o desconforto das temperaturas do exterior;
  • Janelas pequenas para o exterior evitam a entrada de raios solares e de poeira;
  • Espelhos d’água trazem frescor e aumentam a umidade do ar;
  • Pátios internos auxiliam na ventilação da edificação e criam um ambiente externo com clima mais ameno;
  • Utilização de cores claras, que refletem os raios solares;
  • Proximidade entre as edificações, para que uma forneça sombra para a outra;
  • Construção apoiada diretamente sobre o solo aumenta o conforto térmico, por captar seu frescor;
  • Telhados planos.

 

Casa adaptada ao clima desértico. (Greentopia)
Casa adaptada ao clima desértico.

 

3. Clima Quente e Úmido:

Nesse tipo de clima, o destaque vai para o alto índice pluviométrico, abundância de vegetação e temperaturas quentes durante o dia todo. Para isso, deve-se priorizar a ventilação natural e sombreamento A seguir, suas características:

  • Edificações elevadas do chão para evitar a umidade do solo e se proteger de possíveis enchentes;
  • Paredes delgadas, para não absorver umidade;
  • Utilização de materiais leves;
  • Telhados com grande inclinação;
  • Beirais e varandas, para proteção contra chuvas e radiação solar;
  • Prever ventilação cruzada e/ou efeito chaminé, para manter o conforto térmico;
  • Priorizar a iluminação natural indireta;
  • Escolher locais com boa ventilação e construir casas separadas, para aproveitamento das brisas.

 

Exemplo de casa em climas quentes e úmidos. (Greentopia)
Exemplo de casa em climas quentes e úmidos.

 

Hoje em dia, temos a tecnologia verde que podemos tirar proveito. Mas não vamos negar que ela aumenta o preço da construção sustentável, muitas vezes até o ponto de se tornar inviável.

Não estamos tirando a importância destes avanços tecnológicos. Quanto mais eles se desenvolvem, mais eficientes ficam e encurtam o tempo de pay back. Só estamos dizendo que uma construção sustentável não necessariamente possui tecnologia verde de ponta. O desenho mais puro, levando em conta as reais necessidades, pode sim resultar em uma edificação eficiente, eco-friendly e com custo de construção e operação muito mais acessível.

 


Fiquem ligados no nosso Instagram. Essa semana vamos mostrar exemplos de arquitetura vernacular e outras contemporâneas condizentes ao lugar que estão implantadas.


 

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