Os centros urbanos e seus problemas… Poluição proveniente das indústrias e veículos, poucas áreas verdes, grande densidade: tudo isso afeta diretamente a qualidade do ar. Visando amenizar a situação de muitas cidades, a empresa alemã Elegant Embellishments, criada por dois arquitetos Allison Dring e Daniel Schwaag, desenvolveu um componente filtrante, que consegue converter os elementos químicos, presentes na poluição do ar, em substâncias não tóxicas.
Chamado de Prosolve, a ideia começou a repercutir depois que um protótipo foi apresentado na Bienal de Arquitetura de 2008. A grande diferença é que essa solução converte elementos muito tóxicos em substâncias inofensivas ao ambiente e à saúde, que são posteriormente “lavadas” pela água da chuva.
E como funciona? Cada peça recebe uma camada de dióxido de titânio, ativado pelos raios UV. Esta substância faz o papel de um catalisador e “quebra” óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, resultando como produto, o dióxido de carbono, nitrato de cálcio (utilizado em fertilizantes) e água. Cada metro quadrado de instalação deste elemento vazado remove 0,26 gramas de óxidos de nitrogênio por dia. E o melhor de tudo? O dióxido de titânio não é consumido na reação química e não há necessidade de reaplicá-lo ao longo do tempo.
Tudo isso sem pecar na estética.
O design: sinergia entre estética e tecnologia
Segundo os fundadores, a inspiração veio dos corais, animais que têm a função biológica de filtrar a água do mar. A forma das peças, feitas de um material plástico e leve, auxilia na eficiência do processo químico, pois recebe a luz e o vento de todas as direções, reduz a velocidade do mesmo e cria uma pequena turbulência interna, que proporciona uma distribuição mais equilibrada dos poluentes na superfície do elemento vazado. Por esse motivo, Schwaag ressalta que o dióxido de titânio aplicado em fachadas planas não teria a mesma eficiência.
Os elementos vazados são regulares, compostos por algumas peças diferentes, que se repetem. Essa modularidade deixa o sistema muito mais acessível e o torna viável. Em contrapartida, o arranjo das peças forma uma imagem ramificada, de crescimento orgânico, aparentando uma complexidade arquitetônica. Além disso, sua forma é customizável, o que gera diferentes possibilidades de projeto.
As peças podem ser utilizadas em fachadas, painéis externos ou internos, em barreiras ao longo de avenidas, em estacionamentos, etc. Seu efeito é capaz de transformar a estética da cidade, por dar identidade a pontos sem atrativos ou restaurar degradados.
Projeto
O primeiro projeto a aplicar estes elementos na fachada é o Hospital Manuel Gea Gonzalez, na Cidade do México.
A cidade do México é considerada uma das cidades mais poluídas do mundo. Desde a década de 1980, a cidade já luta contra a poluição do ar, através do incentivo ao uso do transporte público, mudanças na fórmula da gasolina, implementação do rodízio veicular e incentivo à mudança das indústrias mais poluidoras da área. No início de 2016, a cidade entrou em contingência ambiental mais uma vez, pelos mesmos motivos. O governo exigiu uma diminuição de 40% das emissões das indústrias e tomou providências para diminuir a circulação de veículos.
Segundo Allison Dring, como o problema da Cidade do México é conhecido por toda a população, o uso desta tecnologia nas fachadas significa que algo está sendo feito para melhorar a condição do ar. A área de 2500m2 da fachada consegue neutralizar o impacto equivalente a 1.000 carros por dia. Consequentemente, a qualidade do ar no entorno próximo a edificação melhorou de forma considerável.
E quem não quer ar puro no meio do caos?
O Brasil já se mostrou interessado em trazer a tecnologia para cá, mas os custos da importação não viabilizaram o projeto. Schwaag acredita que a melhor forma de possibilitar o uso do elemento vazado aqui seria produzi-lo em terreno nacional.
Outros projetos que utilizarão o Prosolve estão sendo desenvolvidos na América do Sul, na Ásia e na África. Por incrível que pareça, na Alemanha não há nenhuma aplicação deste sistema, pois, segundo Schwaag: “Colocar a solução é admitir o problema.”
Nossas cidades podem sim ser um lugar melhor. Tomar consciência do problema é o primeiro passo para buscarmos uma solução. E são essas novas tecnologias que mostram que estamos no caminho para melhorar a qualidade de vida dos centros urbanos e torná-los mais sustentáveis.
Fontes:
Bloomberg – Buzzbuzz Home – Canal CNN – Elegant Embellishments – Fast Coexist – Green Me – Inhabitat – Istoé – Outra Cidade – Portal G1 – Prosolve 370e – Smart Magazine – Tumblr Elegant Embellishment